A cultura do excesso: minha visão como consumidora
Boa Vida

A cultura do excesso: minha visão como consumidora


Sexta passada voltei do meu período de quinze dias em Nova York, onde fui pra assistir ao Congresso da Academy for Eating Disorders e de quebra tirar uns dias de férias. Esse post não é pra falar do congresso em si – embora eu tenha visto muita coisa interessante! –, mas sim pra deixar registradas as minhas impressões sobre a cultura do excesso que impera nos EUA, em especial no que diz respeito à alimentação.

Como estava hospedada na casa de uma amiga, tinha a possibilidade de comprar comida para não precisar comer fora todos os dias. Lá fui eu nos meus primeiros dias conhecer a tal da “Whole Foods”, rede de supermercados “saudáveis” de NY. Minha intenção era comprar uma simples granola e um simples iogurte. Mal sabia eu a armadilha em que acabara de me enfiar...


Esse é o corredor das granolas. Claro que ele era ainda mais comprido do que a foto conseguiu registrar. Eram inúmeras, incontáveis opções... Só de granola. Todas com as caixas mais chamativas possíveis e com milhões de “apelos” de consumo: sem glúten; orgânica; sem gordura trans; sem açúcares; integral... E por aí vai. No corredor dos iogurtes a mesma coisa.

Confesso que fiquei tão “deslumbrada” (uso essa palavra, que tem uma conotação positiva, pois não existe tradução para o termo que eu queria usar, que é “overwhelmed”) que passei meia hora tentando analisar as granolas na minha frente e fazer a “melhor” escolha. Chegou um momento em que eu estava tão desesperada que acabei pegando qualquer uma. A mais barata, pra ser precisa (ainda bem que era gostosa!).

Muito se comenta sobre a relação complicada que os americanos, em especial, têm com a comida. Inclusive, um dos autores que adoro e que escreve sobre isso é o pesquisador Paul Rozin (vejam esse e esse artigo especificamente). Imagino que um dos aspectos da difícil relação dos americanos com a comida seja justamente o excesso de opções, que acaba provocando confusão, dúvida e escolhas aleatórias (como a minha foi!).

Na minha opinião, a máxima capitalista de que o excesso é desejável e tudo é descartável se aplica à nossa relação com a comida, onde mais é melhor (“vou me entupir no rodízio mesmo, afinal, estou pagando!") e ao mesmo tempo tudo é supérfluo e deve ser de fato descartado, abrindo espaço para uma “nova necessidade” (os vômitos e purgações podem representar isto em alguns contextos).

Conclusão: a viagem foi maravilhosa e proveitosa. Mas estou feliz por estar de volta.



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