Das ironias (e bizarrices) da vida
Boa Vida

Das ironias (e bizarrices) da vida



Caros leitores! Vou começar abordando a bizarrice:

Pesquisadores das Ilhas Canárias (veja estudo aqui) conseguiram aprovar em algum comitê de ética o seguinte estudo: colocaram 15 homens com excesso de peso para receber uma dieta líquida de 320kcal/dia por quatro dias. Não bastasse isso, nesse período eles realizaram 9h/dia (isso mesmo, nove horas ao dia!) de exercício, mais especificamente caminhada a 4,5km/h. O “grande” achado foi que, ao final desse período, os indivíduos haviam perdido em média 4,9kg, sendo 2,8kg de gordura. Ao final de um ano, eles apresentaram reganho de 1kg de gordura.

Algumas coisas me chamaram a atenção nesse estudo:

1. Em relação às dosagens bioquímicas, somente os exames de colesterol total e LDL apresentaram reduções significativas com a intervenção após quatro semanas. Níveis de glicemia, insulina, triglicérides e HDL – que são importantes parâmetros de saúde, em oposição ao peso corporal – não sofreram alterações...

2. Não foi avaliada a mudança de comportamentos com a intervenção. Imagino o que deve ter acontecido com a alimentação dessas pessoas após quatro dias de restrição intensa... Compulsão alimentar, talvez? E como será que esses indivíduos encaram hoje a prática de atividade física?

3. Na seção “limitações” do estudo, os autores colocaram que TODOS os indivíduos reclamaram de dores musculares e nas articulações. E colocam um alerta: “indivíduos que estão menos motivados provavelmente não tolerariam esse tipo de intervenção”. Sério mesmo que eles acharam espantoso o fato de indivíduos que se exercitaram nove horas ao dia consumindo 320kcal sentirem dor? E outra: o que isso tem a ver com motivação?

4. Por que alguém decide fazer um estudo como este? O quão factível esse protocolo é na vida real das pessoas?!

Agora a ironia:

Pesquisadores chineses (artigo a ser publicado no Journal of Sport and Health Science, de título: “Metabolic response to 6-week aerobic exercise training and dieting in previously sedentary overweight and obese pre-menopausal women: a randomized trial”) colocaram 90 mulheres sedentárias com excesso de peso para participarem de um programa de exercícios (muito bem desenvolvido, por sinal, levando em conta medidas de frequência cardíaca de cada uma) ou de uma intervenção nutricional com objetivo de perda de peso, durante seis semanas. Ao final do período, as voluntárias do grupo exercício não perderam peso e nem gordura corporal, mas apresentaram melhoras significativas em resistência à insulina, glicemia e ácidos graxos livres. Já as mulheres que receberam orientações nutricionais para emagrecimento perderam peso, mas não apresentaram benefícios metabólicos (alterações positivas nos exames citados acima).

Ou seja: nesses dois estudos, perda de peso não resultou em melhorias à saúde (ao menos no que diz respeito a parâmetros metabólicos). Já mudanças de comportamentos (factíveis e de bom senso) sim.

Boa semana a todos!



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