Dieta não é reeducação alimentar!
Boa Vida

Dieta não é reeducação alimentar!


Hoje vou falar sobre um tema que me deixa muito intrigada na minha prática profissional: o fato de muitos pacientes acreditarem que “dieta” é sinônimo de “reeducação alimentar”.

Dieta é assumir que existem alimentos saudáveis e não saudáveis. Dieta é supervalorizar um alimento qualquer só porque ele “está na moda” ou está sendo mais falado pela mídia. Dieta é assumir que determinados alimentos são “milagrosos” ou têm “super poderes”. Dieta é achar que “doce engorda”, não importando a circunstância e a quantidade. Dieta é assumir que as nossas escolhas alimentares são puramente racionais, fruto somente do nosso conhecimento nutricional e do auto-controle que temos sobre nós próprios. Dieta é se convencer de que o valor nutricional dos alimentos é mais importante do que as vontades individuais e nossos gostos alimentares. Dieta é sentir culpa ao comer algo que alguém determinou que eu não deveria comer. Dieta é desrespeitar os sinais de fome, apetite e saciedade que o corpo envia. Dieta é desvalorizar o papel que o prazer em comer tem na promoção da saúde holísitca (física e mental) de um indivíduo. O conceito de dieta é efêmero, muda a cada estação. Dieta é desrespeitar sua individualidade e seu corpo.

Reeducação alimentar é assumir que não existem categorias distintas de alimentos, saudáveis e não saudáveis, mas entender que o que existe de fato é alimentação saudável. Reeducação alimentar é entender o papel biopsicossocial do alimento em nossa vida. Reeducação alimentar é saber que o que de fato engorda são exageros frequentes, que muitas vezes surgem porque restringimos nossa alimentação e não nos permitimos de fato comer o que gostamos e o que queremos. Reeducação alimentar é entender e respeitar os sinais nobres de fome, apetite e saciedade que o corpo manda. Reeducação alimentar é saber de fato quando estou com vontade de comer um doce ou quando quero comer o doce para obter um conforto emocional (e saber que posso fazer isso se quiser!). Reeducação alimentar é redescobrir o prazer em comer, não importando se é bolo de chocolate ou brócolis ao vapor. Reeducação alimentar requer esforço e auto-conhecimento. Reeducação alimentar é uma série de comportamentos e práticas que adquirimos para a vida toda.

Entenderam?!

Gosto muito de um texto da nutricionista americana Ellyn Satter, que define de forma ampla e bela o que uma alimentação saudável:

“Alimentar-se normalmente é ser capaz de comer quando você está com fome e continuar comendo até você ficar satisfeito. É ser capaz de escolher os alimentos que você gosta e comê-los até aproveitá-los suficientemente – e não simplesmente parar porque você acha que deveria. Alimentar-se normalmente é ser capaz de usar alguma restrição na seleção de alimentos para consumir os alimentos certos, mas sem ser tão restritivo a ponto de não comer os alimentos prazerosos. Alimentar-se normalmente é dar permissão a você mesma para comer às vezes porque você está feliz, triste ou chateado ou apenas porque é tão gostoso. É também deixar alguns biscoitos no prato porque você pode comer mais amanhã ou então comer mais agora porque eles têm um sabor maravilhoso quando estão frescos. Alimentar-se normalmente é comer em excesso às vezes e depois se sentir estufado e desconfortável. Também é comer a menos de vezes em quando, desejando ter comido mais. Alimentar-se normalmente é confiar que seu corpo conseguirá corrigir os errinhos da sua alimentação. Alimentar-se normalmente requer um pouco do seu tempo e atenção, mas também ocupa o lugar de apenas uma área importante, entre tantas, de sua vida. Resumindo, o “comer normalmente” é flexível e varia em resposta às nossas emoções, nossa agenda, nossa fome e nossa proximidade com o alimento.” (Satter, 1987)

Uma boa e prazerosa Páscoa a todos!



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