Melhorando a relação com a comida... Mas só depois de emagrecer.
Boa Vida

Melhorando a relação com a comida... Mas só depois de emagrecer.



Não é mistério algum que uma das grandes motivações para se buscar um nutricionista atualmente seja o desejo de emagrecer. Eu sempre explico aos meus pacientes que meu papel não é “emagrecê-los”, e sim ajudá-los a melhorar sua relação com a comida e com o corpo; e que existem muitos outros benefícios quando se tem uma alimentação saudável, benefícios estes desvinculados da perda de peso e exemplificados pelo amigo Cezar Vicente Júnior neste outro post.

Vejam, eu não sou contra o emagrecimento por si só e não sou uma “apologista à obesidade”; só acredito que comer e viver melhor no corpo que temos hoje é o caminho ideal para melhorar nossa qualidade de vida e nossa saúde. Mesmo esse corpo sendo obeso.

Muitas vezes, quando se tira o foco inicial do peso e de fato o indivíduo consegue mudar sua relação com a comida (e consigo mesmo), o emagrecimento é possível. Mas muitas vezes isso também não ocorre. Pelo menos não de imediato. Não posso mentir. E digo isso aos meus pacientes também.

Daí vem a grande pergunta que alguns deles me fazem: então será que eu não posso tentar emagrecer antes (por exemplo, fazendo outra dieta), para me sentir bem, e depois trabalhar minha relação com a comida?

Bom, pela minha experiência, pelos meus estudos e por aquilo que eu acredito, minha resposta é: Não. Não acredito que isso vá funcionar.

Primeiro porque a maioria das pessoas que me procura já fez dietas antes e sabe que todas elas falham. Quando se faz dieta, a relação com a comida torna-se ainda pior. Novamente vai existir a categorização dos alimentos (“bons” e “ruins”) e as regras externas sobre o que e quanto se deve ou não comer. Toda dieta funciona com base na restrição alimentar, e melhorar a relação com a comida implica em permissão alimentar. São conceitos contrários. Quando (e se) a pessoa emagrece fazendo dieta, dificilmente ela vai sentir-se segura para abandonar a restrição voluntariamente e se permitir comer, já que o medo de “botar tudo a perder” e ganhar peso novamente virá com força total.

Além disso, existe o fato de que nada garante que a pessoa vai emagrecer e então ficar satisfeita e feliz, por mais “bizarro” que isso possa soar. Por vezes, a busca pelo emagrecimento camufla outras buscas e anseios em outros domínios da vida do indivíduo. Por isso a terapia se torna por vezes tão essencial: é uma oportunidade de se trabalhar outros aspectos que compõem a autoestima do indivíduo. Como profissionais de saúde, devemos questionar a influência indevida e exagera do peso e forma corporais no nosso senso de valor como indivíduos. Penso que só assim poderemos verdadeiramente ajudar os pacientes que nos procuram.

Claro que alguns pacientes não aceitam bem essa minha resposta e não se convencem de que o caminho que eu proponho possa ser uma alternativa. E eu respeito isso. Não sou a dona da verdade. Mas me mantenho fiel àquilo que acredito. E tenho certeza de que muitos se beneficiam dessa abordagem.



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