Qual o real papel de um nutricionista numa equipe de cirurgia bariátrica?
Boa Vida

Qual o real papel de um nutricionista numa equipe de cirurgia bariátrica?


Aproveitando a notícia de que em breve o SUS passará a cobrir cirurgias bariátricas para adolescentes a partir de 16 anos (o que na minha opinião é um grande equívoco, mas isso é assunto para um outro post!), decidi escrever hoje sobre qual o real papel de um nutricionista numa equipe de cirurgia bariátrica.

Muita gente (inclusive cirurgiões e pacientes candidatos ao procedimento) enxerga o nutricionista somente como o profissional que vai fazer uma avaliação pré-cirúrgica para entregar um laudo, necessário muitas vezes para que os convênios aprovem a cirurgia. Quando muito, entende-se que o nutricionista é necessário nos primeiros meses, para orientar o que se pode ou não comer para “não passar mal”. Depois disso, vai-se emagrecer mesmo por conta do procedimento, então esse profissional aparentemente não será mais necessário.

Certo? Errado.

Eu sempre digo aos meus pacientes bariátricos que não sou uma “emagrecedora”. Esse não é o título da minha profissão e não é isso que conduz minha linha de trabalho. Qual é então a real função do nutricionista no acompanhamento pré e pós-operatório da cirurgia bariátrica?

1. Conhecer a história de ganho de peso do indivíduo: no Consenso da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica, coloca-se que o candidato à cirurgia deve ter feito pelo menos algum tratamento clínico prévio para obesidade, sem obter sucesso. Muitos pacientes que são avaliados (pelo menos na minha experiência) nem sequer fizeram acompanhamento com nutricionista antes, ou seja, nunca passaram por um processo de educação alimentar/mudança de comportamentos e hábitos. O que todos já tentaram foram medicamentos e dietas, e sabe-se que estas estão intimamente relacionadas a um maior ganho de peso a longo prazo. Ou seja: é essencial explicar aos pacientes os malefícios e as armadilhas das dietas e o processo de mudança de hábitos pelo qual ele terá que passar para garantir o sucesso da cirurgia.

2. Questionar e entender as motivações do paciente para fazer a cirurgia e avaliar suas expectativas de perda de peso: estudos recentes (veja aqui e aqui) verificaram expectativas muito irreais de perda de peso nos candidatos à cirurgia, o que pode aumentar a chance do paciente adotar comportamentos inadequados para continuar perdendo de peso após o procedimento e dificultar a adesão ao acompanhamento nutricional.

3. Avaliar a presença/desenvolvimento de atitudes alimentares inadequadas e transtornos alimentares: pacientes com compulsão alimentar ou transtorno da compulsão alimentar periódica previamente à cirurgia podem apresentar menor perda de peso a médio e longo prazo, maior psicopatologia e menor qualidade de vida. Além disso, apresentam maior risco de desenvolver compulsões alimentares “subjetivas”, como o grazing, que seriam beliscadas frequentes com sensação de perda de controle. Alguns pacientes, ainda, acabam desenvolvendo distúrbios de imagem corporal e atitudes alimentares inadequadas após à cirurgia, como medo intenso de voltar a comer normalmente, vômitos auto-induzidos para aumentar a perda de peso, sensação de culpa ao comer determinados alimentos e insatisfação corporal persistente apesar do emagrecimento. O nutricionista é capaz de trabalhar essas questões – juntamente com os outros profissionais da equipe – para evitar que culminem no desenvolvimento de um transtorno alimentar propriamente dito.

E isso é só o começo.

Feliz dia das crianças a todos!



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