Entendendo a motivação para o tratamento nos transtornos alimentares
Boa Vida

Entendendo a motivação para o tratamento nos transtornos alimentares


Li esses dias um artigo muito interessante e gostaria de compartilhar um pouco dele com vocês. O título é “The myths of motivation: time for a fresh look at some received wisdom in the eating disorders”, e já está na lista de artigos no canto direito do blog. Minhas reflexões aqui não refletem seu conteúdo total, por isso sugiro que vocês de fato o leiam!

A autora começa colocando que, no campo dos transtornos alimentares, muito se valoriza o engajamento do paciente na construção de um vínculo com os profissionais e seu engajamento na mudança ativa e gradativa de comportamentos. Entretanto, a autora coloca que deve ser considerado o fato de que muitos pacientes desenvolvem um senso de “desesperança”, de que são “um caso perdido”, apesar de quererem se ver livres da doença. Essa negatividade pode vir da longa duração do transtorno, quer seja porque o paciente não buscou tratamento previamente ou porque passou por intervenções e tratamentos ineficazes. Muitas vezes, para complicar a situação, essa desesperança acaba sendo compartilhada por familiares e amigos do paciente, quando não pela própria equipe multiprofissional. Usar frases como “o paciente é crônico” ou “o paciente não está preparado para o tratamento” podem despertar e revelar esse tipo de sentimento.

A autora define o conceito de “motivação para mudança” como sendo a disposição e a habilidade para mudar um determinado comportamento. Para isso, o paciente deve entender a importância desta mudança e deve se sentir confiante para realizá-la. Na área dos transtornos alimentares, segundo a autora, a melhor avaliação da motivação para mudança deve ser a habilidade, ou seja, o que o paciente coloca de fato em prática, e não a disposição, aquilo que ele diz que vai fazer. Assim, ela sugere que uma maneira de limitar o sentimento de frustração que pode surgir é encarar a motivação expressa por meio de palavras como um “manifesto”: o paciente tinha a intenção de colocar em prática o que disse, mas a realidade de executar se mostrou árdua demais.

Como encarar estes manifestos dos pacientes, já que eles não significam de fato que uma mudança concreta está por vir? A autora diz que eles têm vários papéis no curso do tratamento: expressar vontade de mudar, mesmo sabendo que será difícil; deixar familiares e amigos mais tranquilos; demonstrar a necessidade de carinho e atenção; obter distanciamento de responsabilidades e compromissos... Muitas vezes de forma inconsciente, é claro.

Por isso eu reforço: os transtornos alimentares são patologias muito complexas, que requerem profissionais treinados no seu tratamento.



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